segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Quinto Poder

Com o intuito de lucrar a imprensa apresenta uma maior diversidade de informações. A busca desesperada de acontecimentos. Procuravam-se encher o jornal com notícias que pudessem interessar o leitor. Uma novidade foi à introdução de folhetins, recebido com muito prazer pelo publico leitor, que estava interessado em diversão e não em política. Também houve a criação de novos cadernos que abrangia um publico mais plural. A velocidade em que são dadas também fez da noticia algo mais curto e direto. Usando-se o que se conhece hoje como a “técnica da pirâmide invertida”, onde o principal está no primeiro parágrafo. E as noticias torna-se estandardizadas. Com a industrialização da imprensa ela começaria a deixar sua ideologia, e veste a camisa de empresa do capitalismo. Descreve Traquina: “Com a expansão da imprensa, as empresas jornalísticas eram empresas cada vez maiores, mais complexas, mais burocráticas, com uma crescente divisão do trabalho[...] Surgiu uma nova dependência da publicidade” ( Teorias do Jornalismo, 2005, pág. 57).
Toda problemática da queda do uso dos ideais de “Quarto Poder” foi à imprensa ter se tornado grandes empresas capitalistas. A decadência da imprensa vem com a nova maneira da noticia ser tratada, meramente como produto. E que para conseguir lucrar as empresas jornalísticas fazem tudo o quanto podem. É nesse contexto que surge a pratica sensacionalista dos fatos. Traquina dispõe:
“O autor britânico Matthew Engel (1996) descreve que as publicações na Inglaterra nessa altura desta forma: ‘Assuntos carnais e pecados secretos eram o tema dos jornais populares de domingo’. E uma quadra britânica do século XIX sobre o jornalismo reza assim: ‘Faz cócegas ao público, fá-lo sorrir; quanto mais faz cócegas, mais ganhas; ensina o público, nunca será rico; vives como um mendigo, e morres na valeta’”.(Teorias do Jornalismo, 2005, pág. 54).
Além disso, nos últimos quinze anos o quarto poder se viu esvaziado de sentido, em meio ao avanço do capitalismo financeiro. Ele perde sua identidade de contra-poder. Na sociedade contemporânea o mercado briga com o Estado. Assim são chamados de donos do poder os grandes grupos econômicos. É nesse sistema, aliado a revolução tecnológica e digital, que o dono da empresa do jornal impresso, quer também distribuir suas noticias pela televisão, rádio e Internet. Assim não só querem distribuir noticias, como informação e programas dos mais variados tipos, para o mais variado publico. A quantidade de lucro que alguém pode ter por meio disso incita a criar grandes corporações de poder e controle mundial, voltadas para a grande massa.
É a partir de então que esses poderosos grupos de comunicação querem ampliar cada vez mais o uso de seus serviços, para o mundo, fazendo concessões com outros médios e pequenos grupos. Com isso eles passam a pressionar os governos e vão contra toda lei que queira limitar as fusões ou impedir o desenvolvimento de monopólios ou duopólios. Interessados na grandeza, se “dobram” perante outros poderes. Se preciso deixam sua ideologia de ser um “quarto poder”, não mais fazendo seu papel de denúncia e informação dos direitos cívicos que o povo tem para impedir toda atitude de quem vai contra a democracia.
Portanto o “Quarto Poder” já não mais funciona como deveria. Todo mal vem do fato da imprensa ser ao mesmo tempo uma imprensa de dinheiro e uma imprensa democrática. Perdido o papel de contra-poder e aliada ao capitalismo de mercado, a imprensa vai sendo levada pela busca de interesses próprios. Os anos evoluem. As novas tecnologias e o surgimento da mídia de massa só contribuem com a perca de sentido do “Quarto Poder”.
Com isso, já no século XXI, um número crescente de agentes sociais, incluindo uma parte significativa da comunidade acadêmica, levanta a questão: Quem protege os cidadãos do “Quarto Poder”? Uma vez que como cita Traquina, os jornalistas viraram estrelas e estão demasiadamente preocupados com os “furos” e prêmio e dinheiro no banco (Fallows, 1996); que os jornalistas alimentados com o “ViagraWatergate”, se tornaram hiper-hostis, criando uma cultura de “foste apanhado!”, gerando um novo tipo de jornalismo rotulado “jornalismo de ataque”(Sabato, 1991); que os jornalistas se tornaram “inimigos da esperança”(Merritt, 1995).
Tendo esse cenário, Ignácio Ramonet, aponta como solução que se crie um Quinto Poder. Esse teria a missão de vigiar essas grandes redes de comunicação que não só deixaram de defender os interesses do povo, como muitas vezes age explicitamente contra ele. Abrir os olhos da sociedade para que ela mesma vigie e exija das grandes mídias a verdade. Pois os grandes grupos têm manipulado a sociedade. Como diz Ramonet, “envenena-nos o espírito, polui nossos cérebros, nos manipula, nos intoxica, tenta instilar em nosso inconsciente, idéias que não são nossas”.(Observatório da mídia em Le Monde Diplomatique, 2003).
Assim se propôs a criação do Observatório Internacional da Mídia (a sigla em inglês é MWG, de Media Watch Global). Esse sim servirá de arma cívica para os cidadãos se defenderem do novo super poder dos grandes meios de comunicação de massa. Esse observatório mostra a preocupação de todo o mundo contra o poder de alienação dos grandes grupos. Esses que confundiram o conceito de liberdade democrática com a liberdade de produzirem informações manipuladoras e que só pensam no interesse da empresa. Essa liberdade da empresa não pode ser maior que o direito dos cidadãos de ter uma informação apurada, verdadeira e de interesse real.
O que motivou a criação desse Observatório é poder defender o direito dos cidadãos a serem bem informados. Um movimento mundial que é o contra-poder dos que até então não o tinha. O quinto poder é de fundamental importância para a sobrevivência da verdadeira democracia. A força desse grupo é principalmente moral. Ele adverte de acordo com a ética e pune os erros de honestidade da mídia por meio de relatórios e pesquisas que elabora, publica e divulga. É de total importância que a ética da informação se baseie na independência editorial, para então ter credibilidade.
Outra mudança, apontada por Traquina, é focar na responsabilidade social que o jornalismo tem. Mostrar para os proprietários e jornalistas dessas grandes empresas que deve haver mudança. Eles devem reexaminar suas práticas. Ramonet sintetiza:
“Estes grandes grupos irão reconhecer que, de agora em diante, acaba de nascer um contra-poder e que este tem vocação para unir todos aqueles que se identificam no movimento social planetário e que lutam contra o confisco do direito de expressão. Jornalistas, professores, ativistas sociais, leitores de jornais, ouvintes de rádio, telespectadores ou usuários da Internet, todos se unirão para forjar uma arma coletiva de debate e de ação democrática. Os senhores da globalização declararam que o século 21 seria o das empresas globais; o Observatório Internacional da Mídia (Media Watch Global) afirma que este será o século em que a comunicação e a informação finalmente pertencerão a todos os cidadãos”.(Observatório da Mídia em Le Monde Diplomatique, 2003)

Nenhum comentário: