terça-feira, 4 de novembro de 2008

Amostra experimental feita com alunos de 1° ao 6° semestre de Jornalismo da UNIP-DF

1º Por que você faz jornalismo?

1.Porque optei por uma profissão dinâmica.
2.Porque acho interessante e gosto!
3.Porque é um trabalho interessante de se executar
4.Pois é uma área que gosto muito, e porque tenho vários planos futuros para esta área
5.Porque eu gosto de trabalhar com a informação social
6.Aptidão
7.Porque sempre me interessei por essa profissão de informar a sociedade
8.Por gostar de escrever e observar a sociedade
9.Porque gosto e me sinto entusiasmada pela profissão
10.Gosto da área
11.Pois quero ser fotografa na área de moda/cultura
12.Porque quero fazer acontecer
13.Pelo interesse pela área de comunicação
14.Nato
15.Complexo. Mal formulada essa pergunta
16.Porque é uma ferramenta importantíssima que possibilita levar informação e conhecimento a quem não tem condições de estudar por exemplo. Fazer parte disso como jornalista é fantástico
17.Porque gosto da área, e admiro.
18.Porque sou assessora de imprensa
19.Porque gosto muito de ler, escrever e de jornalismo.
20.Porque eu quero poder mostrar para a sociedade a verdade em relação aos fatos. Quero contribuir socialmente, junto aos meios como funciona as várias partes de um determinado fato.

2º Como vc considera a imprensa atual?

Ótima Boa Regular Ruim Péssima

1 13 5 0 1

3º Você confia na mídia atual?

Sim Não Às vezes
12 6 2

4º Você sabe o que é o "Quinto Poder?”.

Sim Não
8 12


5º Você acha que o jornalista tem o papel de educar a sociedade?

Sim Não
13 7


6º Você acha que o jornalista tem o poder de melhorar a sociedade?

Sim Não
12 8


7ºVocê pensa em fazer um jornalismo diferente do atual? Como?


· Não
· Não
· Não respondeu.
· Não
· Não
· Não
· Não
· Não
· Não
· Não
· Não
· Não
· Não tenho opinião formada sobre isso.
· Espero que sim. Procurando fazer tudo diferente do que é feito hoje na mídia
· Sim com mais liberdade e expressão
· Sim. Abolino o sensacionalismo sem fazer as pessoas de bobo
· Sim Trabalhando efetivamente na área social
· Sim. Aliando-o a uma função social
· Sim. Melhorar reportagens, publicando notícias, fatos, muito melhores do que as atuais.
· Sim. Ao longo do curso descobrirei
· Sim. Ser menos sensacionalista e mais verdadeiro
· Acredito que atualmente o jornalismo busca apenas satisfazer os desejos(de lucro) do jornal. Eu gostaria de poder mostrar a população a “verdade” dos fatos. A mídia deve ser mais imparcial.


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Pesquisa feita pelo nosso grupo e anexada ao projeto integrado de comunicação (PIC)

Frase

“Onde estava todo esse dinheiro? Estava muito bem guardado. De repente, ele apareceu logo, para salvar o quê? Vidas? Não. Apareceu para salvar os bancos”

José Saramago, escritor, sobre a crise econômica mundial e a ajuda dos governos de diversos países às instituições financeiras

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frase publicada na edição dessa semana da revista veja

Gagged in Brazil - Censura na Imprensa

Aécio Neves - Liberdade essa palavra - Parte 1

Aécio Neves - Liberdade essa palavra - Parte 2

LIBERDADE, ESSA PALAVRA - FINAL

A importância da imprensa alternativa

Este artigo foi escrito por Gustavo Barreto e publicado no Consciência.net

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Se você diz que ainda há uma imprensa alternativa nos dias de hoje — já que o período "de ouro" deste tipo de imprensa foi durante a ditadura — então você está dizendo, no mínimo, que existe uma outra imprensa, aquela que não é alternativa. Ou seja, seria o mesmo que dizer que há uma imprensa padrão, a dita grande imprensa. E que nós, da imprensa alternativa, nos opomos parcialmente a elas.
Isso não significa entrar em um jogo maniqueísta, dizendo que somos nós contra eles. Não é isso. É apenas destacar que nós temos uma linha editorial diferente, com toda uma estrutura de pensamento e lógica conceitual diferente. Somos, enfim, ideologicamente diferentes.
Este é um aspecto.
Outra característica, mais técnica, é muito mais fácil de ser explicada. A imprensa alternativa não possui, em grande parte, meios de comunicação de massa. TVs, jornais de grande circulação, rádios. Tudo isso está, em maioria absoluta, na mão da "grande imprensa". Há um ou outro caso de programação alternativa na tevê, como por exemplo a TV CUT, que passa na Rede TV uma vez por semana. Há alguns bons programas na tevê fechada, que não chega à maior parte da população. As tevês da Câmara Federal e do Senado têm uma programação excelente. Mas a estrutura ainda pertence a poucos e poderosos grupos, que por sua vez detêm a maior parte das verbas da publicidade.
Este, portanto, é outro aspecto: a propriedade de meios.
No primeiro aspecto — o ideológico — a imprensa alternativa se coloca de forma muito clara do lado dos oprimidos e contra os opressores. E estas não são palavras abstratas, como se costuma dizer. Cabe um breve relato sobre este assunto, dada a importância da linguagem.
Oprimido é o trabalhador informal, o gari, a empregada, a prostituta, o cara da periferia, aquela mulher que tem pouca informação e acaba fazendo muitos filhos. O bêbado, o drogado, a criança que vive na rua, o adolescente no tráfico porque não tem emprego e escola. Estes são os principais oprimidos.
É, de forma muito clara, o que paga a conta do país. Nos jornais, todos os jornais, você ouve cada vez mais falar em queda da renda, aumento do trabalho informal e do desemprego, aumento da carga tributária e por aí vai. Isto não muda simplesmente porque há um "operário" no poder. É preciso mudar alguma coisa, não apenas as características pessoais de um governante. Quem paga isso é, em grande parte, a classe mais pobre e, também, a classe média por meio dos impostos. Isso tem a ver com a estrutura jurídica, tributária e de propriedade, no campo ou na cidade.
Tendo maior poder de negociação, as pessoas que menos sofrem com a recessão possuem um acesso muito maior à mídia. E a isto boa parte da mídia chama de "imparcialidade". Eles dizem: "Vamos, de forma imparcial e democrática, ouvir o megaempresário e o mendigo. Vamos colocá-los juntos e ouvi-los". Aí o mendigo não consegue falar, não consegue passar sua idéia. Ele está desorganizado, não conhece os outros mendigos. Está desesperado. Se o pessoal da produção oferecer um pão, a crítica dele já será outra, mais mansa.
Depois fala o megaempresário. Possui três empresas, provavelmente herdadas do pai, do tio, do avô. Está confortável em sua posição, viaja duas vezes por ano para a Europa, participa de um seminário por mês, onde encontrará todos os seus amigos megaempresários. Naturalmente ele estará mais à vontade para colocar suas posições.
Esta é uma metáfora, pode ser visto como uma metáfora, mas é parecido com o que acontece, de forma mais geral, com os diversos segmentos de nossa sociedade. O próprio movimento sindical — de onde nosso presidente veio — possui essas disparidades.
O que faz, portanto, a imprensa alternativa hoje? Dá voz aos mal-pagos. Está do lado do ferrado, do injustiçado, do cara que está com tanta fome que nem gritar consegue. Está do lado das senzalas pós-modernas. A grande mídia, ou boa parte dela, não consegue nem enxergar isso. Muitas vezes — mas não todas — não se trata de má-fé. No entanto, é no mínimo patético pegar o cara que já nasceu condenado a todas as formas de injustiça e colocar no mesmo patamar que o garoto da Zona Sul, que teve uma educação européia. É no mínimo ridículo.
A isso chamam "imparcialidade".
É exatamente nesse sentido que o filósofo Max Weber afirmou que "neutro é quem já se decidiu pelo mais forte". Aqui entra a imprensa alternativa, que se parece um pouco com algumas mídias da Europa.
A idéia de uma imprensa não-partidária, ou seja, que não se posicione politicamente (no sentido mais amplo da palavra, e não apenas institucional) é um juízo de valor oriundo do jornalismo norte-americano. E o jornalismo brasileiro é o cavalo de Platão do jornalismo norte-americano. Segundo este modelo, a busca da imparcialidade e objetividade deve ser o eixo da produção jornalística.
Mesmo tendo um profundo respeito por ela, os editores e integrantes da imprensa alternativa, em grande parte, não concordam com esta visão. É principalmente na Europa, como eu disse, que se pratica um outro modelo, que consideramos mais pertinente, no qual o posicionamento político é natural e necessário. A imparcialidade, deste ponto de vista, só pode ser alcançado se o jornalismo não for encarado com dois pesos e duas medidas.
No campo da sociologia de esquerda, existia um pensamento muito forte que dizia o seguinte: quanto pior estiver a economia, mais chances de o povo se revoltar. Disso, viria a revolução e as mudanças estruturais. Este é um pensamento clássico, de esquerda, mas certamente obsoleto. Quase que toda a esquerda já notou uma coisa que parece cada vez mais óbvia: povo com fome não gera revolução, e sim submissão.
Esta pequena e abrangente lógica está atingindo, ironicamente, a imprensa. Seja qual for o motivo da crise, é certo que os modelos de administração das atuais empresas de comunicação estão falidos. Todos os grandes grupos estão em crise, de forma mais ou menos acentuada. Com isso, está aumentando cada vez mais a dependência destes grupos em relação ao pessoal da grana, do dinheiro.
É este o significado do discurso de que o "capital" possui o domínio sobre os meios de comunicação. Estas não são palavras vazias, abstratas. Pode-se argumentar — e eu discordo dessa argumentação — que tais palavras são muito agressivas. Mas não deixam de ser sábias.
Quem é o "capital"? Ora bolas, quem tem o dinheiro e investe nas empresas de comunicação. E quem são estas entidades? Bancos, empresas em expansão (telefonia, multinacionais etc.) e, principalmente, o governo.
Este é o ponto crucial: mesmo que as empresas tenham poder, o governo possui duas formas de pressão essenciais. É do governo que vem uma quantidade considerável de publicidade. E é do governo federal que virá a verba de financiamento, via BNDES, para fomentar o "mercado" de comunicação e gerar empregos.
Não é de se estranhar que a grande mídia esteja praticamente de joelhos para os governos, estejam estes na esfera federal, estadual ou municipal.
Com este quadro, é fácil explicar porque a TV Bandeirantes demitiu o apresentador Jorge Kajuru por fazer críticas ao governador de Minas, Aécio Neves; porque o Jornal do Brasil demitiu um de seus mais tradicionais jornalistas, o Alberto Dines, por fazer críticas à relação entre o jornal e o governo Garotinho (RJ); mais fácil ainda podemos perceber porque o melhor jornal do país em termos jornalísticos (não julgando aqui ideologia) — o carioca O Globo — é o mais amistoso e declaradamente pró-governo federal em sua linha editorial.
Não é difícil visualizar as intenções da família Marinho quando faz campanha pelo homem do dinheiro no governo, o ministro Palocci, e atua em conjunto com este ao dizer que os senadores que votaram contra o minguado salário de R$ 260 é que são os "traidores" da grande causa humanista de Palocci de dar apenas R$ 4 de aumento real por causa da "responsabilidade fiscal" — levando inclusive um ministro de Lula, Jacques Wagner, a afirmar em maio: "O povo não come estabilidade".
Sem contar a revista Veja e sua edição-propaganda de Antonio Palocci. Mas a revista Veja não conta mais. É peça publicitária.
Isto ocorre, em linhas gerais, porque o poder econômico está prevalecendo sobre a autonomia ideológica, mesmo que você aceite o discurso da imparcialidade e da objetividade.
Pergunta-se se esta é uma relação direta ou se os jornalistas realmente acreditam que é normal que o ministro da Fazenda tenha mais importância do que o ministro da Cultura — uma figura medíocre politicamente e brilhante no que faz (e de onde nunca deveria ter saído) e que diz: "Em casa de pobre também se come", aceitando a falta de verbas de seu ministério, imposto, sempre, pela "responsabilidade fiscal" de Palocci.
A resposta desta pergunta é, talvez, "tanto faz". Tanto faz se o jornalista é censurado ou se ele faz autocensura. O resultado — ou seja, o apoio incondicional às linhas gerais do pensamento economicista de empresas e governos — é o mesmo.
Diante de tudo isso, está explícita a importância da imprensa alternativa — aquela que pensa de forma independente e que não aceita interiorizar a idéia de que o ministro da Fazenda é mais importante que o da Cultura.
Isto não significa, como se verifica inclusive dentro da própria imprensa alternativa, negar o lado econômico. Muito pelo contrário. O maior desafio da imprensa alternativa é viabilizar um projeto administrativo que não dependa exclusivamente de verbas oficiais ou das megacorporações empresariais, ao mesmo tempo em que solidifica uma posição afirmativa e empreendedora que diga muito claramente: nenhum ser humano é ilegal. Basicamente, unir o sonho da justiça social à perspicácia do empreendedorismo. Não é algo impossível. Não é sequer difícil. É apenas um desafio diário e contínuo.

O "quinto poder"

Este artigo foi escrito por Ignacio Ramonet, Diretor-presidente do Le Monde Diplomatique e foi originalmente publicado na edição brasileira do Le Monde Diplomatique nº 45, outubro de 2003. Recomendo a leitura (principalmente) para aqueles que ainda não sabem qual a importância do “quinto poder”.
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Há muitas e muitas e muitas décadas que a imprensa e os meios de comunicação representam, no contexto democrático, um recurso dos cidadãos contra os abusos dos poderes. Na realidade, os três poderes tradicionais – legislativo, executivo e judiciário – podem falhar, se equivocar e cometer erros. Com maior freqüência, é claro, nos Estados autoritários e ditatoriais, onde o poder político se torna o principal responsável por todas as violações de direitos humanos e por todas as censuras contra as liberdades.
Mas também são cometidos graves abusos nos países democráticos, embora as leis sejam democraticamente votadas, os governos eleitos por sufrágio universal e a justiça seja – em teoria – independente do poder executivo. Ocorre o fato desta condenar, por exemplo, um inocente (como esquecer o caso Dreyfus, na França?); do Parlamento votar leis discriminatórias para com determinadas categorias da população (foi o caso, nos Estados Unidos, durante mais de um século, em relação aos afro-americanos, e volta a ser, hoje, em relação a pessoas originárias de países muçulmanos devido ao Patriot Act); dos governos adotarem políticas cujas conseqüências se revelarão funestas para todo um setor da sociedade (é o caso, atualmente, dos imigrantes "sem-documentos" em inúmeros países europeus).
Em tal contexto democrático, os jornalistas e os meios de comunicação consideraram, com freqüência, ser um dever importante denunciar estas violações de direitos. Às vezes, pagaram caro por isso: atentados, "desaparecimentos", assassinatos, como ainda se pode constatar na Colômbia, na Guatemala, na Turquia, no Paquistão, nas Filipinas e em outros países. Foi por este motivo que, durante muito tempo, se falou no "quarto poder". Definitivamente, e graças ao senso cívico dos meios de comunicação e à coragem de jornalistas audaciosos, as pessoas dispunham deste "quarto poder" para criticar, rejeitar e resistir, democraticamente, às decisões ilegais que poderiam ser iníquas, injustas e até criminosas para com pessoas inocentes. Dizia-se, muitas vezes, que era a voz dos sem-voz.
Características novas
Nos últimos quinze anos, à medida que se acelerava a globalização liberal, este "quarto poder" se viu esvaziado de sentido, perdendo, pouco a pouco, sua função fundamental de contrapoder. Ao se estudar de perto como funciona a globalização, ao observar como se desenvolveu um novo tipo de capitalismo – agora, não só industrial, mas, principalmente, financeiro, ou, resumindo, um capitalismo de especulação – esta evidência chocante se impõe. Na atual fase da globalização, assiste-se a um confronto brutal entre o mercado e o Estado, entre o setor privado e os serviços públicos, entre o indivíduo e a sociedade, entre o íntimo e o coletivo, entre o egoísmo e a solidariedade.
O verdadeiro poder está atualmente nas mãos de um punhado de grupos econômicos planetários e de empresas globais cujo peso nos negócios do mundo inteiro parece, às vezes, mais importante do que o dos governos e dos Estados. São eles, os "novos senhores do mundo", que se reúnem anualmente em Davos, no âmbito do Fórum Econômico Mundial, e que inspiram as políticas adotadas pela grande Trindade da globalização: o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio.
É neste contexto geoeconômico que se produziu – no próprio coração da estrutura industrial – uma metamorfose decisiva do lado da comunicação de massa.
Os meios de comunicação de massa (rádios, imprensa, emissoras de televisão, internet) se fundem cada vez mais, em arquiteturas que se reproduzem, para constituir grupos de comunicação de vocação mundial. Empresas gigantes, como a News Corps, a Viacom, a AOL Time Warner, a General Electric, a Microsoft, a Bertelsmann, a United Global Com, a Disney, a Telefónica, a RTL Group, a France Telecom etc., dispõem, atualmente, de novas possibilidades de expansão devido às mudanças tecnológicas. A "revolução digital" rompeu as fronteiras que antes separavam as três formas tradicionais de comunicação: o som, a escrita e a imagem. Permitiu o surgimento e o avanço da internet, que representa um quarto modo de se comunicar, uma nova maneira de se expressar, de se informar, de se distrair.
A partir daí, as empresas de comunicação são tentadas a se constituir em "grupos" para reunirem todas as formas clássicas de comunicação (imprensa, rádio e televisão), mas também todas as atividades que poderiam ser chamadas de setores da cultura de massa, da comunicação e da informação. Três esferas que antes eram autônomas: de um lado, a cultura de massa, com sua lógica comercial, suas criações populares, seus objetivos basicamente mercantis; de outro, a comunicação, no sentido publicitário, o marketing, a propaganda, a retórica da persuasão; e, finalmente, a informação, com suas agências de notícias, boletins de radiodifusão ou de televisão, a imprensa, as redes de informação contínua – em resumo, o universo de todos os jornalismos.
Estas três esferas, que antes eram tão distintas, foram se misturando pouco a pouco, até constituírem uma única esfera, ciclópica, na qual é cada vez mais difícil distinguir as atividades pertencentes à cultura de massa, à comunicação ou à informação [Ignacio Ramonet, La Tyrannie de la Communication et Propagandes silencieuses, ed. Galilée, Paris, 1999 e 2002 (também disponível em brochura)]. Além do mais, estas gigantescas empresas de mídia, estes produtores de símbolos em cadeia, multiplicam a difusão de mensagens de todo tipo, nas quais se misturam televisão, desenhos animados, cinema, videogames, CDs musicais, DVD, edição, aldeias temáticas do gênero Disneylândia, esporte, espetáculos etc.
Em outras palavras, os grupos de mídia possuem atualmente duas características novas: em primeiro lugar, encarregam-se de tudo o que envolve texto, imagem e som e o divulgam por meio dos canais mais variados (jornais, rádios, televisões abertas, a cabo ou por satélite, internet e por todo tipo de rede digital). A segunda característica: estes grupos são mundiais, planetários e globais – e não apenas nacionais e locais.
Desigualdade da riqueza
Em 1940, num filme célebre, Orson Welles criticava o "superpoder" do Citizen Kane (na realidade, William Randolph Hearst, o magnata da imprensa do início do século 20). Entretanto, comparado ao poder que os grandes grupos mundiais detêm atualmente, o poder de Kane era insignificante. Dono de alguns jornais num único país, Kane dispunha de um poder nanico (o que não impede que fosse eficiente em escala local e nacional) [veja-se na Itália, por exemplo, a superpotência, na área de comunicações, do grupo Fininvest, de Silvio Berlusconi, ou na França, a dos grupos Lagardère e Dassault] diante dos arquipoderes dos megagrupos de mídia de nossos tempos.
Por meio de mecanismos de concentração, estas hiperempresas contemporâneas apoderam-se dos mais diversos setores da mídia em inúmeros países, através de todos os continentes, tornando-se, assim, devido a seu peso econômico e sua importância ideológica, os atores centrais da globalização liberal. Como a comunicação (abrangendo a informática, a eletrônica e a telefonia) se tornou a indústria pesada de nosso tempo, estes grandes grupos procuram ampliar suas dimensões por meio de aquisições constantes e exercendo pressões sobre os governos no sentido de revogar as leis que limitam a concentração ou impedem a constituição de monopólios ou duopólios. [Sob a pressão dos grandes grupos da mídia americana, a Federal Communications Comission (FCC) dos Estados Unidos autorizou, no dia 4 de junho de 2003, a suspensão dos limites à concentração: as empresas passariam a poder controlar até 45% da audiência nacional (cujo limite, até agora, era de 35%). A decisão deveria ter entrado em vigor no último dia 4 de setembro, mas foi suspensa pela Corte Suprema porque houve quem visse na medida "uma grave ameaça à democracia".]
Portanto, a globalização econômica é também a globalização da mídia de massa, da comunicação e da informação. Preocupados, acima de tudo, em ver triunfar seu gigantismo – o que obriga a adular os outros poderes –, estes grandes grupos deixaram de ter como objetivo cívico o de ser um "quarto poder", assim como deixaram de denunciar os abusos contra os direitos ou de corrigir as disfunções da democracia para polir e aperfeiçoar o sistema político. Não pretendem se apresentar como um "quarto poder" e, menos ainda, como um contrapoder.
Quando, eventualmente, podem constituir um "quarto poder", este se junta aos outros poderes existentes (político e econômico) para esmagar o cidadão como poder suplementar, como poder da mídia.
Portanto, a questão que se coloca, em termos de cidadania, é a seguinte: como reagir? Como se defender? Como resistir à ofensiva deste novo poder que, de certa forma, traiu os cidadãos passando-se, com armas e bagagens, para o inimigo?
Basta, simplesmente, criar um "quinto poder". Um "quinto poder" que nos permita opor uma força cidadã à nova coalizão dos senhores dominantes. Um "quinto poder" cuja função seria a de denunciar o superpoder dos grandes meios de comunicação, dos grandes grupos da mídia, cúmplices e difusores da globalização liberal. Meios de comunicação que, em determinadas circunstâncias, não só deixaram de defender os cidadãos, mas, às vezes, agem explicitamente contra o povo. Como se pode constatar na Venezuela.
Neste país latino-americano – em que a oposição foi varrida do cenário político em 1998, quando se realizaram eleições livres, plurais e democráticas – os principais grupos de imprensa, rádio e televisão desencadearam, pela mídia, uma autêntica guerra contra a legitimidade do presidente Hugo Chávez [Ignacio Ramonet, "Un crime parfait", Le Monde diplomatique, junho de 2002]. Embora este e seu governo continuem respeitando o contexto democrático, a mídia, nas mãos de um punhado de privilegiados, continua a utilizar a artilharia da manipulação, da mentira, da lavagem cerebral para tentar intoxicar o espírito das pessoas [Maurice Lemoine, "Dans les laboratoires du mensonge au Venezuela", Le Monde diplomatique, agosto de 2002]. Nessa guerra ideológica, eles abandonaram completamente qualquer veleidade da função de um "quarto poder" e procuram, desesperadamente, defender os privilégios de uma casta, opondo-se a qualquer reforma social e a qualquer distribuição mais justa da imensa riqueza nacional.
O caso venezuelano é exemplar da nova situação internacional, na qual grupos da mídia, ensandecidos, assumem abertamente sua nova função de cães de guarda da ordem econômica estabelecida e seu novo estatuto de poder antipopular e anticidadão. Estes grandes grupos não se assumem exclusivamente como poder da mídia; constituem, antes de tudo, o braço ideológico da globalização e sua função é a de conter as reivindicações populares ao mesmo tempo em que tentam abocanhar o poder político (como conseguiu fazer, de forma democrática, Silvio Berlusconi, dono do principal grupo de comunicação da Itália).
A "guerra suja da comunicação", travada na Venezuela contra o presidente Hugo Chávez, é a réplica exata do que fez no Chile, de 1970 a 1973, o jornal El Mercúrio [e muitos outros meios de comunicação, como La Tercera, Ultimas Noticias, La Segunda, Canal 13 etc; ver, de Patricio Tupper, Allende, la cible des médias chiliens et de la CIA (1970-1973), Editions de l’Amandier, Paris, 2003] contra o governo democrático do presidente Salvador Allende, até incentivar os militares ao golpe de Estado. Tais campanhas, em que a mídia procura abater a democracia, poderiam voltar a surgir amanhã no Equador, no Brasil ou na Argentina contra qualquer reforma legal que tente modificar a hierarquia social e a desigualdade da riqueza. Aos poderes das oligarquias tradicionais e da reação clássica, juntam-se agora os poderes da mídia. Juntos – e em nome da liberdade de expressão! – atacam os programas que defendem os interesses da maioria da população. É esta a fachada da mídia da globalização. Revela da maneira mais clara, mais evidente, mais caricatural, a ideologia da globalização liberal.
Informação verificada
Mídia de massa e globalização liberal estão intimamente ligadas. É por isto que parece urgente refletir sobre a maneira pela qual os cidadãos podem exigir dos grandes meios de comunicação mais ética, mais verdade, mais respeito por uma deontologia que permita aos jornalistas agirem segundo suas consciências, e não em função de interesses dos grupos, das empresas e dos patrões que os empregam.
Na nova guerra ideológica que impõe a globalização, a mídia é utilizada como arma de combate. A informação – devido à sua explosão, à sua multiplicação, à sua super-abundância – encontra-se literalmente contaminada, envenenada por todo tipo de mentiras, poluída pelos boatos, pela deformação, pela distorção, pela manipulação.
Acontece, nesta área, o que ocorreu com a alimentação. Durante um tempo demasiado longo, os alimentos foram raros, o que ainda acontece em inúmeros lugares do mundo. Mas quando o campo começou a produzir em superabundância – em especial nos países da Europa Ocidental e da América do Norte, graças às revoluções agrícolas – percebeu-se que muitos alimentos estavam contaminados, envenenados por pesticidas, provocando doenças e infecções, produzindo cânceres e todo tipo de problemas de saúde, chegando ao ponto de semear ondas de pânico de massa, como ocorreu com a peste da "vaca louca". Resumindo: antes, podia-se morrer de fome; agora pode-se morrer por ter comido alimentos contaminados...
Com a informação, ocorre o mesmo. Historicamente, ela foi muito escassa. Ainda hoje, nos países ditatoriais, não há informação confiável, completa, de qualidade. Em compensação, nos países democráticos ela transborda por todos os lados. Ela nos asfixia. Empédocles dizia que o mundo era constituído pela combinação de quatro elementos: o ar, a água, a terra e o fogo. A informação tornou-se de tal forma abundante que, de certa maneira, passou a constituir o quinto elemento de nosso mundo globalizado.
Porém, e ao mesmo tempo, todos constatamos que a informação, como os alimentos, está contaminada. Envenena-nos o espírito, polui nossos cérebros, nos manipula, nos intoxica, tenta instilar em nosso inconsciente idéias que não são nossas. É por isto que é necessário elaborar o que se poderia chamar uma "ecologia da informação". Para limpar, purificar a informação, da "maré negra" de mentiras. Da qual foi possível, uma vez mais, avaliar a enormidade por ocasião da recente invasão do Iraque [Ignacio Ramonet, "Mensonges d’Etat", Le Monde diplomatique, julho de 2003]. É preciso descontaminar a informação. Assim como foi possível conseguir alimentos "orgânicos" – menos contaminados, por definição, do que os outros – deveria ser conseguida uma espécie de informação "orgânica". Os cidadãos devem se mobilizar para exigir que os meios de comunicação pertencentes aos grandes grupos globais respeitem a verdade, pois somente a busca da verdade constitui, de maneira definitiva, a legitimidade da informação.
Foi por isto que propusemos a criação do Observatório Internacional da Mídia (a sigla em inglês é MWG, de Media Watch Global). Para que, finalmente, fosse possível dispor de uma arma cívica da qual os cidadãos se pudessem servir para enfrentar o novo superpoder dos grandes meios de comunicação de massa. Este observatório é a expressão do movimento social planetário que se reuniu em Porto Alegre, no Brasil. Justamente em meio à ofensiva da globalização liberal, ele expressa a preocupação de todo mundo diante da nova arrogância das indústrias gigantes da comunicação.
Os grandes meios de comunicação privilegiam seus interesses particulares em detrimento do interesse geral e confundem sua própria liberdade com a liberdade de empresa, considerada a principal de todas as liberdades. Mas a liberdade de empresa não pode, de forma alguma, prevalecer sobre o direito dos cidadãos a uma informação rigorosa e verificada, nem servir de pretexto para a difusão consciente de notícias falsas ou de difamações.
Arma coletiva
A liberdade da mídia não passa de uma extensão da liberdade coletiva de expressão, um dos fundamentos da democracia. Enquanto tal, não pode ser confiscada por um grupo de poderosos. Além do mais, ela implica uma "responsabilidade social" e, conseqüentemente, seu exercício deve permanecer, em última instância, sob o controle responsável da sociedade. Foi esta convicção que nos levou a propor a criação do Observatório Internacional da Mídia – Media Watch Global. Pois a mídia é, atualmente, o único poder sem um contrapoder, criando-se, dessa forma, um desequilíbrio prejudicial para a democracia.
A força desta entidade é, principalmente, de ordem moral: ela adverte baseada na ética e pune os erros de honestidade da mídia por meio de relatórios e pesquisas que elabora, publica e divulga.
O Observatório Internacional da Mídia constitui um contrapeso indispensável ao excesso de poder dos grandes grupos de comunicação que impõem, em matéria de informação, uma única lógica – a do mercado – e uma única ideologia – a do pensamento neoliberal. Esta entidade internacional pretende exercer uma responsabilidade coletiva, em nome do interesse superior da sociedade e do direito dos cidadãos a serem bem informados. Por este motivo, ela considera de importância fundamental a pauta da próxima reunião de cúpula mundial sobre a informação que se realizará no próximo mês de dezembro, em Genebra [Armand Mattelart, "La communication, enjeu du Nouvel ordre international", Le Monde diplomatique, agosto de 2003]. Também se propõe a proteger a sociedade das manipulações pela mídia que, como as epidemias, se multiplicaram nos últimos anos.
O Observatório conta com três tipos de membros, com direitos idênticos: 1) jornalistas profissionais ou circunstanciais, na ativa ou aposentados, que trabalhem em qualquer tipo de meio de comunicação, formal ou alternativo; 2) professores universitários e pesquisadores, de qualquer disciplina e, mais particularmente, especialistas na área da comunicação, pois a Universidade, no atual contexto, tornou-se um dos raros lugares ainda parcialmente protegidos das ambições totalitárias do mercado; 3) usuários dos meios de comunicação, cidadãos comuns e personalidades notórias por sua estatura moral...
Os atuais sistemas de regulamentação dos meios de comunicação são insatisfatórios por toda parte. Posto que a informação é um bem comum, sua qualidade só poderia ser garantida por organizações exclusivamente compostas por jornalistas, que muitas vezes estão vinculados a interesses corporativistas. Os códigos deontológicos de cada empresa de comunicação – quando existem – se mostram pouco capazes de punir ou corrigir os desvios, as omissões e a censura. É indispensável que a deontologia e a ética da informação sejam definidas e defendidas por uma instância imparcial, com credibilidade, independente e objetiva, na qual os professores universitários tenham um papel decisivo.
A função dos ombudsman, ou mediadores, que foi útil nas décadas de 80 e de 90, encontra-se atualmente mercantilizada, desvalorizada e desvirtuada. É muitas vezes manipulada pelas empresas, responde às exigências de imagem e constitui um álibi barato para reforçar artificialmente a credibilidade dos meios de comunicação.
Um dos direitos mais preciosos do ser humano é o de comunicar livremente suas idéias e suas opiniões. Nenhuma lei deve restringir, arbitrariamente, a liberdade de expressão ou a liberdade de imprensa. Mas esta só pode ser exercida por empresas de comunicação mediante a condição de que não sejam transgredidos outros direitos dos cidadãos tão consagrados quanto este, de poder ter acesso a uma informação não contaminada. As empresas de comunicação não devem – sob o artifício de estarem protegidas pela liberdade de expressão – poder divulgar informações falsas, nem conduzir campanhas de propaganda ideológica ou outros tipos de manipulação.O Observatório Internacional da Mídia considera que a liberdade absoluta dos meios de comunicação, reivindicada em coro pelos patrões dos grandes grupos da mídia mundial, somente poderia ser exercida às custas da liberdade de todos os cidadãos. Estes grandes grupos irão reconhecer que, de agora em diante, acaba de nascer um contrapoder e que este tem vocação para unir todos aqueles que se identificam no movimento social planetário e que lutam contra o confisco do direito de expressão. Jornalistas, professores, ativistas sociais, leitores de jornais, ouvintes de rádio, telespectadores ou usuários da internet, todos se unirão para forjar uma arma coletiva de debate e de ação democrática. Os senhores da globalização declararam que o século 21 seria o das empresas globais; o Observatório Internacional da Mídia (Media Watch Global) afirma que este será o século em que a comunicação e a informação finalmente pertencerão a todos os cidadãos.

PROPRIEDADE CRUZADA, razões de fundo para o silêncio da mídia

Para avançar na compreensão das razões pelas quais a mídia impressa raramente aprofunda as questões relativas à mídia eletrônica (e vice-versa) é preciso relembrar uma das características principais do sistema brasileiro de mídia. Entre nós – ao contrário do que ocorre no resto do mundo – a ausência de regulação permitiu que os principais grupos de mídia se constituíssem e se consolidassem em torno da propriedade cruzada dos meios.
O que exatamente significa isto? A legislação brasileira permite a um mesmo grupo empresarial controlar, no mesmo mercado, não só concessões públicas de rádio (AM e FM) e televisão – aberta (VHF e/ou UHF) e/ou paga (cabo, MMDS ou DTH) – como também ser proprietário de jornais e/ou revistas e/ou portais de internet.
Além disso, a legislação não disciplina a formação de redes – de rádio e/ou de TV – permitindo a subordinação, de fato, de emissoras locais e regionais à programação de uma "cabeça de rede" nacional. E mais: a legislação não protege o produtor de conteúdo (jornalístico e/ou audiovisual) independente e permite que os grandes grupos de mídia mantenham sob seu controle oligopolistico também a produção de conteúdo.
Excrescência celebrada
Foi essa ausência de regulação que possibilitou, por exemplo, a formação dos dois maiores conglomerados da história da mídia brasileira: os Diários Associados e as Organizações Globo. Ambos são emblemáticos da propriedade cruzada que se estende por todo território nacional em aliança com as oligarquias políticas regionais.
O Correio Braziliense é um dos principais jornais dos Diários Associados – que foi, em passado não tão distante, "o maior império de comunicações da América Latina".
Os Associados começaram com a aquisição de um pequeno jornal no Rio de Janeiro e rapidamente o grupo se expandiu não só para outros jornais, como para as revistas, o rádio e a televisão. No final da década de 1950 havia se transformado num conglomerado de "quarenta jornais e revistas, mais de vinte estações de rádio, quase uma dezena de estações de televisão, uma agência de notícias e uma empresa de propaganda". E ainda "um castelo na Normandia, nove fazendas produtivas espalhadas por quatro estados brasileiros, indústrias químicas e laboratórios farmacêuticos".
Quando completaram 80 anos – em outubro de 2004 – embora longe da grandeza que tiveram na metade do século passado, os Associados fizeram publicar anúncio de página inteira em seus jornais que dizia:
"Em 1924, ao publicar a 1ª edição de O Jornal, Assis Chateaubriand dava início ao que é hoje um dos mais importantes grupos de comunicação brasileiro. Atualmente, os Associados agrupam 37 empresas de diversos segmentos: jornais, emissoras de TV, rádios, portais de internet e uma Fundação."
No sistema brasileiro de mídia é assim. A propriedade cruzada não só está na raiz da formação e consolidação dos principais grupos, tanto nacionais como regionais, mas é inclusive celebrada em anúncios de datas comemorativas como prova de grandeza e sucesso.
Mobilização social
É dentro desse contexto que a cobertura – ou sua ausência – de questões relativas ao controle de concessões públicas de radiodifusão por deputados e senadores tem que ser compreendida. Eventualmente essas questões podem envolver empresas de radiodifusão do mesmo grupo proprietário do jornal e/ou da revista.
Essa realidade faz aumentar ainda mais a urgência da construção democrática de um projeto de Lei Geral de Comunicação Eletrônica de Massa. Não sejamos ingênuos, todavia. Corremos o risco muito concreto de que uma Lei Geral seja aprovada no Congresso e não resolva essas questões. Por quê?
Concessionários e proprietários – e seus aliados – estão historicamente muito bem representados não só nas Comissões de Comunicação da Câmara e do Senado, mas também no conjunto das duas Casas do Legislativo (há estimativas de que cerca de 100 parlamentares do "novo" Congresso teriam interesses diretos ou indiretos na radidiofusão). Alguns são, eles próprios, parlamentares.
Além de atores políticos poderosos, eles têm o poder de alterar a regulação do setor, inclusive da propriedade cruzada. Ademais, estão em condições de exercer, através da mídia que controlam, uma influência comparativamente diferenciada na formação da opinião pública que, afinal, pode eleger senadores, deputados e perpetuar circularmente a perversão do sistema. Resta a expectativa de uma distante, mas sempre possível mobilização da sociedade civil. Ela funcionaria como grupo de pressão legítimo e democrático junto ao Congresso Nacional no interesse público. Afinal, até mesmo seus concessionários e proprietários admitem a centralidade e a importância fundamental da mídia nas democracias contemporâneas. Inclusive na brasileira.

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Por Venício A. de Lima
Publicado no Observatório da Imprensa


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O fascínio do jornalismo

As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas. Registram-nas fielmente os sensíveis radares da opinião pública. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros mitos que conspiram contra a credibilidade dos jornais.Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Transmite, num pomposo tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. É uma bobagem.Jornalismo não é ciência exata e jornalistas não são autômatos. Além disso, não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. A neutralidade é uma mentira, mas a isenção é uma meta a ser perseguida. Todos os dias. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade.E é isso que conta.Mas a busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, a falta de rigor e o excesso de declarações entre aspas.O jornalista engajado é sempre um mau repórter.Militância e jornalismo não combinam.Trata-se de uma mescla, talvez compreensível e legítima nos anos sombrios da ditadura, mas que, agora, tem a marca do atraso e o vestígio do fundamentalismo sectário.O militante não sabe que o importante é saber escutar. Esquece, ofuscado pela arrogância ideológica ou pela névoa do partidarismo, que as respostas são sempre mais importantes que as perguntas.A grande surpresa no jornalismo é descobrir que quase nunca uma história corresponde àquilo que imaginávamos.O bom repórter é um curioso essencial, um profissional que é pago para se surpreender.Pode haver algo mais fascinante? O jornalista ético esquadrinha a realidade, o profissional preconceituoso constrói a história.Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Trata-se de um esforço de isenção mínimo e incontornável. Mas alguns desvios transformam um princípio irretocável num jogo de cena. A apuração de faz-de-conta representa uma das maiores agressões à ética informativa.Matérias previamente decididas em bolsões engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é sincera, não se apóia na busca da verdade.É um artifício. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: a repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca, então, pretensos especialistas para declararem o que o repórter quer ouvir. Personalidades entrevistadas avalizam a “seriedade” da reportagem.Mata-se o jornalismo. Cria-se a ideologia.É necessário cobrir os fatos com uma perspectiva mais profunda. Convém fugir das armadilhas do politicamente correto e do contrabando opinativo semeado pelos arautos das ideologias.Boa parte do noticiário de política, por exemplo, não tem informação. Está dominado pela fofoca e pelo declaratório. Não tem o menor interesse para os leitores.A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade da informação.A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da matéria, transmite ao leitor a sensação de uma fraude.Autor do mais famoso livro sobre a história do “New York Times”, Gay Talese vê importantes problemas que castigam a imprensa de qualidade.“Não fazemos matéria direito, porque a reportagem se tornou muito tática, confiando em e-mail, telefones, gravações. Não é cara a cara.Quando eu era repórter, nunca usava o telefone.Queria ver o rosto das pessoas.” “Não se anda na rua, não se pega o metrô ou um ônibus, um avião, não se vê, cara a cara, a pessoa com quem se está conversando”, conclui Talese. E o leitor, não duvidemos, capta tudo isso.O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer algo mais. Quer o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões. Conquistar leitores é um desafio formidável. Reclama realismo, ética e qualidade.O jornalismo tropeça em armadilhas. Nossa profissão enfrenta desafios, dificuldades e riscos sem fim. E é aí que mora o fascínio.

CARLOS ALBERTO DI FRANCO é diretor do Master em jornalismo

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Artigo publicado ontem no OGlobo

BBC - Muito além do Cidadão KANE (1993) - Parte 1

Pessoal,
esse documentário é do Simon Hartog sobre a Rede Globo para a TV britânica, é bem antigo, mas muito interessante. Foi proibido no Brasil por muito tempo – não encontramos nenhuma informação atual sobre a proibição. Tanto a Globo quanto a Record tentaram comprar os direitos do documentário – uma para se defender, a outra para atacar. Esse vídeo conta uma história importante e deve ser conhecido por todos que estão estudando comunicação e pelos interessados na história política do Brasil. Apesar de ser antigo, pode-se constatar que a realidade não mudou muito...

BBC - Muito além do Cidadão KANE (1993) - Parte 2

BBC - Muito além do Cidadão KANE (1993) - Parte 3

BBC - Muito alem do Cidadao KANE (1993) - Parte 4

Que "caia a ficha"

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Olá galera,

esse artigo foi publicado na Flha de S. Paulo há três semanas atrás. Muito bom!

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ODED GRAJEW

Que "caia a ficha": não há ausência de idéias ou de recursos para acabar com as mazelas sociais. O que falta é vontade política


O governo norte-americano solicitou e obteve, em regime de urgência, autorização do Congresso para usar US$ 700 bilhões a fim de salvar o sistema financeiro. Essa montanha de dinheiro estava disponível, da mesma forma como está disponível o montante de dólares -aproximadamente US$ 1 trilhão- investido anualmente pelos países em armas e operações militares. Ao mesmo tempo, dois bilhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza no mundo. A ONU estima que aproximadamente US$ 150 bilhões anuais seriam necessários para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Estabelecidos em 2000, prevêem para 2015 acabar com a fome e reduzir drasticamente a pobreza, as mazelas sociais e a degradação ambiental. Nem a metade dos recursos necessários foi até agora arrecadada. Conseqüentemente, prevê-se que as metas não serão atingidas.
Para todos os que se preocupam com as questões sociais e ambientais, é fundamental que "caia a ficha". Não há carência de idéias nem ausência de recursos para acabar com as mazelas sociais e proporcionar uma vida digna a todos os habitantes do planeta e assegurar o desenvolvimento sustentável às futuras gerações. O problema é a falta de vontade política da maioria dos governantes. Tenho confirmado em inúmeras ocasiões essa constatação. A título de ilustração, posso citar dois acontecimentos que presenciei. O primeiro deles ocorreu em 2005 por ocasião da Assembléia Geral da ONU. Cento e vinte chefes de Estado e representantes governamentais se reuniram para avaliar o andamento dos ODM, bem abaixo da expectativa. Todos os governantes que falaram foram surpreendentemente francos, fizeram uma autocrítica e reconheceram unanimemente que o problema não é falta de recursos nem de idéias, mas apenas falta de vontade política.
A segunda ocasião também foi na ONU, num encontro de representantes da sociedade civil com Michel Camdessus, diretor-geral do FMI na época. De forma assustadoramente sincera, ele nos confessou que fora surpreendido alguns dias antes pelo presidente da Indonésia com uma pergunta sobre a melhor forma de combater a pobreza no seu país. Como não soube responder, porque nunca se debruçara sobre essa questão, queria os nossos conselhos. A vontade política da maioria dos governantes (com poucas e honrosas exceções) não é exercida nos assuntos que não afetam diretamente a eles ou aos financiadores de suas campanhas. Eles não vivem na pobreza, não passam fome nem participam pessoalmente das guerras que declaram. No entanto, agem rapidamente para combater a crise financeira que atinge diretamente suas vidas. No Brasil -onde há uma das maiores cargas tributárias do mundo-, os serviços públicos são de tão baixa qualidade que a maioria dos governantes e financiadores de campanha não os utilizam. Aposto que a vontade política de melhorar educação, saúde e transporte público aumentaria consideravelmente se fossem utilizados por eles e suas famílias. Por isso é tão importante uma reforma política que elimine o financiamento privado das campanhas eleitorais e estimule a participação ativa da sociedade no acompanhamento do debate e da execução dos orçamentos públicos. Será que estamos condenados a agir apenas após as grandes catástrofes, que, pela sua dimensão, acabam atingindo a todos? Nunca, em toda a história da humanidade, foi tão necessário agir preventivamente.
Temos recursos e tecnologia para acabar com a fome e a pobreza, mudar a matriz energética e produzir produtos e serviços de baixo impacto ambiental. Os meios de comunicação, de informação e a indústria cultural têm poder para mudar, para melhor, comportamentos, prioridades e valores. Será que devemos esperar novamente uma grande e, talvez, definitiva catástrofe para mobilizar todos esses recursos e só então trocar nosso insano modelo de crescimento por um outro que vise o desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável? Tomara que não. Depende de todos e de cada um de nós.
ODED GRAJEW, 64, empresário, é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República (2003).

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Quinto Poder

Com o intuito de lucrar a imprensa apresenta uma maior diversidade de informações. A busca desesperada de acontecimentos. Procuravam-se encher o jornal com notícias que pudessem interessar o leitor. Uma novidade foi à introdução de folhetins, recebido com muito prazer pelo publico leitor, que estava interessado em diversão e não em política. Também houve a criação de novos cadernos que abrangia um publico mais plural. A velocidade em que são dadas também fez da noticia algo mais curto e direto. Usando-se o que se conhece hoje como a “técnica da pirâmide invertida”, onde o principal está no primeiro parágrafo. E as noticias torna-se estandardizadas. Com a industrialização da imprensa ela começaria a deixar sua ideologia, e veste a camisa de empresa do capitalismo. Descreve Traquina: “Com a expansão da imprensa, as empresas jornalísticas eram empresas cada vez maiores, mais complexas, mais burocráticas, com uma crescente divisão do trabalho[...] Surgiu uma nova dependência da publicidade” ( Teorias do Jornalismo, 2005, pág. 57).
Toda problemática da queda do uso dos ideais de “Quarto Poder” foi à imprensa ter se tornado grandes empresas capitalistas. A decadência da imprensa vem com a nova maneira da noticia ser tratada, meramente como produto. E que para conseguir lucrar as empresas jornalísticas fazem tudo o quanto podem. É nesse contexto que surge a pratica sensacionalista dos fatos. Traquina dispõe:
“O autor britânico Matthew Engel (1996) descreve que as publicações na Inglaterra nessa altura desta forma: ‘Assuntos carnais e pecados secretos eram o tema dos jornais populares de domingo’. E uma quadra britânica do século XIX sobre o jornalismo reza assim: ‘Faz cócegas ao público, fá-lo sorrir; quanto mais faz cócegas, mais ganhas; ensina o público, nunca será rico; vives como um mendigo, e morres na valeta’”.(Teorias do Jornalismo, 2005, pág. 54).
Além disso, nos últimos quinze anos o quarto poder se viu esvaziado de sentido, em meio ao avanço do capitalismo financeiro. Ele perde sua identidade de contra-poder. Na sociedade contemporânea o mercado briga com o Estado. Assim são chamados de donos do poder os grandes grupos econômicos. É nesse sistema, aliado a revolução tecnológica e digital, que o dono da empresa do jornal impresso, quer também distribuir suas noticias pela televisão, rádio e Internet. Assim não só querem distribuir noticias, como informação e programas dos mais variados tipos, para o mais variado publico. A quantidade de lucro que alguém pode ter por meio disso incita a criar grandes corporações de poder e controle mundial, voltadas para a grande massa.
É a partir de então que esses poderosos grupos de comunicação querem ampliar cada vez mais o uso de seus serviços, para o mundo, fazendo concessões com outros médios e pequenos grupos. Com isso eles passam a pressionar os governos e vão contra toda lei que queira limitar as fusões ou impedir o desenvolvimento de monopólios ou duopólios. Interessados na grandeza, se “dobram” perante outros poderes. Se preciso deixam sua ideologia de ser um “quarto poder”, não mais fazendo seu papel de denúncia e informação dos direitos cívicos que o povo tem para impedir toda atitude de quem vai contra a democracia.
Portanto o “Quarto Poder” já não mais funciona como deveria. Todo mal vem do fato da imprensa ser ao mesmo tempo uma imprensa de dinheiro e uma imprensa democrática. Perdido o papel de contra-poder e aliada ao capitalismo de mercado, a imprensa vai sendo levada pela busca de interesses próprios. Os anos evoluem. As novas tecnologias e o surgimento da mídia de massa só contribuem com a perca de sentido do “Quarto Poder”.
Com isso, já no século XXI, um número crescente de agentes sociais, incluindo uma parte significativa da comunidade acadêmica, levanta a questão: Quem protege os cidadãos do “Quarto Poder”? Uma vez que como cita Traquina, os jornalistas viraram estrelas e estão demasiadamente preocupados com os “furos” e prêmio e dinheiro no banco (Fallows, 1996); que os jornalistas alimentados com o “ViagraWatergate”, se tornaram hiper-hostis, criando uma cultura de “foste apanhado!”, gerando um novo tipo de jornalismo rotulado “jornalismo de ataque”(Sabato, 1991); que os jornalistas se tornaram “inimigos da esperança”(Merritt, 1995).
Tendo esse cenário, Ignácio Ramonet, aponta como solução que se crie um Quinto Poder. Esse teria a missão de vigiar essas grandes redes de comunicação que não só deixaram de defender os interesses do povo, como muitas vezes age explicitamente contra ele. Abrir os olhos da sociedade para que ela mesma vigie e exija das grandes mídias a verdade. Pois os grandes grupos têm manipulado a sociedade. Como diz Ramonet, “envenena-nos o espírito, polui nossos cérebros, nos manipula, nos intoxica, tenta instilar em nosso inconsciente, idéias que não são nossas”.(Observatório da mídia em Le Monde Diplomatique, 2003).
Assim se propôs a criação do Observatório Internacional da Mídia (a sigla em inglês é MWG, de Media Watch Global). Esse sim servirá de arma cívica para os cidadãos se defenderem do novo super poder dos grandes meios de comunicação de massa. Esse observatório mostra a preocupação de todo o mundo contra o poder de alienação dos grandes grupos. Esses que confundiram o conceito de liberdade democrática com a liberdade de produzirem informações manipuladoras e que só pensam no interesse da empresa. Essa liberdade da empresa não pode ser maior que o direito dos cidadãos de ter uma informação apurada, verdadeira e de interesse real.
O que motivou a criação desse Observatório é poder defender o direito dos cidadãos a serem bem informados. Um movimento mundial que é o contra-poder dos que até então não o tinha. O quinto poder é de fundamental importância para a sobrevivência da verdadeira democracia. A força desse grupo é principalmente moral. Ele adverte de acordo com a ética e pune os erros de honestidade da mídia por meio de relatórios e pesquisas que elabora, publica e divulga. É de total importância que a ética da informação se baseie na independência editorial, para então ter credibilidade.
Outra mudança, apontada por Traquina, é focar na responsabilidade social que o jornalismo tem. Mostrar para os proprietários e jornalistas dessas grandes empresas que deve haver mudança. Eles devem reexaminar suas práticas. Ramonet sintetiza:
“Estes grandes grupos irão reconhecer que, de agora em diante, acaba de nascer um contra-poder e que este tem vocação para unir todos aqueles que se identificam no movimento social planetário e que lutam contra o confisco do direito de expressão. Jornalistas, professores, ativistas sociais, leitores de jornais, ouvintes de rádio, telespectadores ou usuários da Internet, todos se unirão para forjar uma arma coletiva de debate e de ação democrática. Os senhores da globalização declararam que o século 21 seria o das empresas globais; o Observatório Internacional da Mídia (Media Watch Global) afirma que este será o século em que a comunicação e a informação finalmente pertencerão a todos os cidadãos”.(Observatório da Mídia em Le Monde Diplomatique, 2003)

Opinião pública e O Quarto Poder

O jornalismo utiliza a teoria da opinião publica, desenvolvida e estudada por filósofos liberais nos finais dos séculos XVII e XVIII. As conclusões são de que a opinião publica é uma parte integrante da teoria democrática de Estado. É também importante como instrumento de controle social. Levanta-se a questão de quem alimentaria a opinião publica para que a mesma pudesse tomar suas decisões. É então que a imprensa surge como um elo indispensável entre a opinião publica e as instituições governantes.
Os jornais se mostrariam do lado do povo e contra os eventuais abusos de poder. È clara a relação. A imprensa lutaria ao lado da opinião publica e contra o poder autoritário. Seria intitulada por isso de “Quarto Poder”. Com isso surge a ideologia de um jornalismo que teria dois deveres. Primeiro, ser um guardião dos cidadãos, os protegendo de abusos do governo, que usava de tirania ainda no inicio do século XIX. Segundo, ser um divulgador de informações que equiparia a sociedade com o necessário para lutar por seus direitos democráticos. E como bem explica Traquina:
“A nova ideologia pregava que os jornais deveriam servir os leitores e não os políticos, pregava que traziam informação útil e interessante aos cidadãos, em vez de argumentos tendenciosos em nome de interesses partidários, pregava fatos e não opiniões” ( Teorias do Jornalismo, 2005, pág.50).
Então, fica claro o culto aos fatos. As citações mostram o desejo da época no século XIX: “O mundo cansou-se de pregadores e sermões. Hoje o mundo pede fatos. Está cansado de fadas e anjos, pede carne e sangue” (Schudson, 1978). E ainda o que Elliot cita: “O comentário é livre, mas os fatos são sagrados” (1978).
O que ajudou também na independência do jornalismo do poder político foi a comercialização dos jornais. A imprensa se tornara uma indústria com objetivo de conseguir lucros, para se manter independente dos políticos e poder expressar sua opinião. Com um publico generalizado, uma nova forma de fazer jornalismo se estabelecia. A chamada penny press, que ganhou tal nome, devido o baixo custo do jornal que atingiu as pessoas que não o compravam por razões econômicas.
O novo jornalismo valoriza a informação e não propaganda. É um novo conceito onde se separa os fatos e as opiniões. Quem utilizou e defendeu esse novo jornalismo, foram as agências de noticias. Uma vez que elas serviam um publico amplo, como vários jornais locais, não podiam lançar uma opinião. Seu público necessitava apenas dos fatos, “nus e crus”. O advento do telégrafo ajudou muito as agências e foi de enorme colaboração, para o firmamento ainda maior de uma imprensa baseada nos acontecimentos. Contudo se firma um jornalismo que fornece informação ao serviço da opinião publica e está em constante vigilância na defesa da liberdade e da democracia. Sendo assim são indispensáveis a essa profissão tão poderosa seus valores.
Fica mais do que claro, que a liberdade é valor essencial do jornalista. Traquina cita que eles estiveram e estão na frente da luta pela liberdade. E esse valor traz a atenção a independência e autonomia dos profissionais em relação aos outros agentes sociais. O sociólogo britânico, Phillip Elliott diz que “a ideologia do profissionalismo tem sempre defendido o principio de que um membro de uma profissão deve ter independência e autoridade nas suas relações de trabalho”. Ligado a isso, é bom lembrar que na maioria dos códigos de ética de jornalistas, existe o que se convencionou chamar de “cláusula de consciência”. Explica Francisco Karam que “de forma geral, significa que os profissionais podem recusar-se a fazer matérias, realizar coberturas ou serem obrigados a cumprir normas editorias que, por razões explicitas ou implícitas, sejam contraria as suas convicções interiores”.

Liberdade e Imprensa

Na sociedade democrática em que vivemos o jornalismo ocupa um espaço fundamental. Existe uma relação simbiótica entre jornalismo e democracia em que o conceito de liberdade é o centro da relação. A consolidação da democracia se inicia com a luta da sociedade contra o poder político absoluto, sob forma de monarquia na maioria dos países. A Reforma Protestante combate à autoridade da Igreja. Uma nova classe burguesa iria lutar contra o poder da aristocracia e o seu monopólio de poder político e o jornalismo brigaria contra a censura desse absolutismo. E como Tocqueville (escritor francês) sintetizou, a soberania do povo e a liberdade de imprensa eram coisas absolutamente inseparáveis e que a censura não podia coexistir com o voto universal.
Até o inicio do século XIX a imprensa tinha como método dominante de financiamento, subsídios políticos. E ainda no século XVIII, os jornais eram armas na luta política. Mas, a forma de fazer jornalismo mudaria, graças aos avanços industriais e alguns fatores sociais no século XIX. Os jornais agora produziam maior quantidade de tiragens com as novas máquinas capacitadas para isso. Tornaram-se também cada vez mais importante para os anúncios publicitários. A escolarização de massas, com a criação de escolas publicas, possibilitou em um número crescente de pessoas alfabetizadas. A urbanização ajudou no crescimento das metrópoles, que teriam um público fácil para consumir o novo produto: o jornal. Nelson Traquina descreve:



“As novas formas de financiamento da imprensa, as receitas da publicidade e dos crescentes rendimentos das vendas dos jornais, permitiram a despolitização da imprensa, passo fundamental na instalação do novo paradigma do jornalismo: o jornalismo como informação e não como propaganda, isto é, um jornalismo que privilegia os fatos e não a opinião [...] a imprensa conquista uma maior independência em relação aos partidos políticos...” (Teorias do Jornalismo, 2005, pág.36).

É influenciado pela evolução do sistema econômico; os avanços tecnológicos; fatores sociais; e a evolução do sistema político no reconhecimento da liberdade no rumo à democracia que a imprensa se expande e tem sua “época de ouro” no século XIX. Tudo isso contribui com a emergência de um jornalismo com seus próprios padrões e integridade moral. Sendo a liberdade o ponto crucial da questão, a teoria democrática se desenvolve. Partindo da luta contra a censura, escritores e filósofos contribuem para a elaboração de uma nova teoria de governo.
Charles-Louis de Secondet, o Barão de Montesquieu, profere que a melhor forma de governar era a que permitia a cada cidadão prosseguir a riqueza e o poder com o mínimo de constrangimento. Segundo Montesquieu, boas leis podiam garantir o triunfo da justiça e da liberdade. A república seria a melhor forma de governo e a liberdade de expressão era fundamental. Outro escritor, François-Marie Arouet de Voltaire, destaca ainda a importância da liberdade de opinião.
As revoluções americanas (1776) e francesa (1789) fizeram da liberdade um principio sagrado. No artigo 11 da Declaração do Homem e do Cidadão, aprovada em Agosto de 1789 diz: “A livre circulação de pensamentos e opinião é um dos direitos mais preciosos do homem. Todos os cidadãos podem, portanto falar, escrever e publicar livremente, excepto quando forem responsáveis pelo abuso dessa liberdade em casos bem determinados por lei”. Mesmo com a defesa da liberdade pelo jornalismo, ainda existia no inicio do século XIX, uma visão critica da imprensa. A imagem dos jornais estava ligada à propaganda política. Os jornalistas eram desprezados como escritores de segunda categoria. Todavia os poderes políticos viam nos jornalistas perigo revolucionário. Um Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo alemão, Mitternich, disse que a imprensa traz consigo o mal inominável, ao denegrir toda a autoridade, ao questionar todos os princípios, ao tentar reconstituir toda a verdade. Com as críticas, o jornalismo encontraria argumentos para derrubar a imagem de força perigosa e revolucionária que alguns políticos queriam impor.